Corpo de Josi Dias passa por perícia para eventual esclarecimento de morte em UPA da Zona Norte. Sindicância da Prefeitura de Marília para apurar atendimento a servidora falecida ultrapassa prazo legal sem relatório final

Morta em janeiro, aos 41 anos, após passar as últimas 57 horas de vida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Norte de Marília, Josiane Gomes Pelegrin Dias ainda não descansa em paz em sua sepultura.
Na manhã deste sábado (22), 44 dias após autorização judicial pela 2ª Vara Criminal da Justiça de Marília, a Polícia Civil providenciou a exumação de seu corpo no Cemitério Municipal de Pirajuí (SP).
O procedimento foi solicitado pela família de Josi Dias, como era conhecida, em ação movida contra médicos que a atenderam na unidade terceirizada da saúde pública municipal de Marília. O processo corre em segredo de Justiça.

ATRASO
Sepultado há 72 dias, o corpo precisou ‘aguardar’ por quase uma hora para ser exumado pela dificuldade da administração do cemitério em identificar o túmulo onde havia sido colocado, sob risco de violar os que estavam ao lado.
A dúvida somente foi sanada após confirmação do blog que, presente à exumação, acionou a família que confirmou a lápide correta, revestida de mármore, através de foto enviada por aplicativo de mensagens.

Os coveiros puseram-se, então, a retirar as peças do jazigo para terem acesso à gaveta onde estava o corpo de Josi Dias. Enquanto abriam, eram orientados a se livrar dos escorpiões que apareciam dali.
SERVIÇO NA COVA
Aberta a sepultura, os coveiros retiraram a alvenaria que isolava o corpo. O forte calor da manhã dificultou o trabalho e exigiu revezamento dos servidores, que recorreram a um balde para juntar os entulhos de tijolos do lado de fora.
O passo seguinte seria remover o caixão para que a exumação ocorresse do lado de fora, a céu aberto. Houve uma primeira tentativa. Na segunda, o caixão se rompeu, inviabilizando a retirada do corpo.
Sem que houvesse outra alternativa, o perito, que já estava paramentado, precisou entrar na sepultura para fazer o serviço. Amostras biológicas e uma peça, que seria o coração, foram extraídos, guardados e lacrados em sacos plásticos.
O trabalho foi conduzido por médico legista do Núcleo de Perícias Médicas Legais (NPML) "Alberto Souza" de Bauru (SP). Por motivos éticos e legais, este blog não publicará imagens da exumação.
CONSERVAÇÃO
Apenas a tampa e uma das laterais do caixão foram retirados da sepultura. Exalou-se, de imediato, forte odor semelhante ao de formol, produto químico utilizado pela tanatopraxia para preservação de cadáveres.
Em janeiro, o blog havia apurado que o corpo de Josi Dias recebeu preparação química para que pudesse ser velado no Velório Municipal localizado em frente ao cemitério onde foi sepultado.
Um tanatopraxista ouvido pelo blog neste sábado (22) em condição de anonimato afirmou que a “ordem natural” da decomposição independe da injeção de formol. “Se com a conservação vão conseguir identificar alguma lesão no coração, já foge do meu conhecimento”, afirmou.
Sem que houvesse como remover o caixão da base comum das gavetas, a sepultura de Josi Dias foi lacrada e só poderá ser reaberta após três anos, pelo menos, em conformidade com decreto paulista de 1980.

LAUDO
Segundo apurou o blog, o material biológico foi enviado para o Instituto de Medicina Social e de Criminologia (IMESC), em São Paulo. O prazo para emissão de laudo é de 30 dias, segundo portaria de 2024.
Após a conclusão, os restos mortais coletados do corpo de Josi Dias não devem retornar para Pirajuí (SP). Segundo outra portaria do IMESC, de 2022, as “peças anatômicas” são “encaminhadas para o descarte sanitário, mediante incineração”.
Neste sábado (22), a defesa da família reafirmou o interesse na “busca pela verdade”. A suspeita é que a servidora tenha infartado na UPA. Na certidão de óbito, no entanto, constam como causas “insuficiência respiratória aguda, broncoaspiração e obesidade”. Confira abaixo:

SINDICÂNCIA
A exumação acontece menos de uma semana após o vencimento, na terça-feira (17), do prazo de 60 dias da sindicância instaurada pela Prefeitura de Marília para “apurar eventuais falhas na prestação dos serviços públicos contratados e outras irregularidades”.
A UPA da Zona Norte e também o Pronto Atendimento (PA) da Zona Sul são administrados pela Associação Hospital Beneficente Unimar (ABHU). A superintendente, Márcia Serva Reis, afirmou ao blog já ter prestado informações à Corregedoria Geral do Município.
A entidade negou ter havido negligência no atendimento a Josi Dias.

Segundo o Código de Ética e Disciplina do Servidor Público da Prefeitura de Marília, as sindicâncias devem ser concluídas em, no máximo, dois meses, com possibilidade de prorrogação por mais 30 dias – de que não havia comunicação pública, no Diário Oficial do Município de Marília (DOMM), pelo menos até a edição deste sábado (22).

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