ACESSO PERMITIDO

Passageiros do transporte coletivo reencontram terminal aberto, em obras e sob risco de acidentes. Abertura de catracas suspende integração para quem paga passagens em dinheiro. Reforma expõe antiga infraestrutura permeável ao tráfego financeiro da pavimentação

Zona de risco: mulher acessa o terminal por abertura improvisada na linha direta da passagem de ônibus

Após dez dias de improvisos, desencontros e precariedade na oferta de infraestrutura provisória, os passageiros voltaram a embarcar e desembarcar na realidade do transporte coletivo de Marília.

Dos arredores da praça São Bento, o fluxo dos ônibus retomou os acessos do Terminal Urbano, de onde haviam sido desviados para ceder espaço às melhorias anunciadas pela nova administração municipal.

Em obras: Terminal Urbano acolheu passageiros de volta em meio a canteiros de poucas melhorias

Apesar do retorno das linhas às suas paradas, os usuários das empresas Grande Marília e Viação Sorriso voltaram a frequentar o mesmo espaço de antes sem que as reformas listadas para uma primeira etapa tivessem sido concluídas.

Ao anunciar a reforma em sua página oficial, em publicação do dia 13, a Prefeitura de Marília citou “ampliação das coberturas laterais, troca dos gradis e do piso da área de embarque e desembarque e asfaltamento da parte interna do Terminal”. Confira o trecho abaixo:

Tudo dentro do prazo de dez dias, segundo previsão da administração municipal, o que não se cumpriu. Apenas a cobertura metálica foi instalada, ainda sem telhado, cujo serviço terminou apenas na madrugada desta quinta-feira (27).

Esqueletos da promessa: motivo de retirara de passageiros, nova cobertura não foi concluída em dez dias

Em suas redes sociais, o prefeito Vinicius Camarinha (PSDB) ainda incrementou o anúncio, sem cravar prazo de entrega, de reforma na iluminação, nova pintura, troca de bancos, melhorias no banheiro, bebedouro com água gelada e paisagismo.

Nesta quinta-feira (27), o usuário que quisesse ir ao banheiro se depararia com mictórios sem cubas, ainda que houvesse vasos com portas instaladas para fora e só tomaria água se comprasse no mercado de entorno do Terminal Urbano.

Mictórios dos banheiros masculinos tiveram cubas retiradas. Administração fala em peça única de inox

Área onde havia uma grande pia para quem quisesse tomar água ou se refrescar do calor no Terminal

RISCOS E GASTOS

Das demais melhorias citadas para a primeira fase, apenas o gradil teve parte removida e recolocada em virtude da retirada de uma árvore e da estrutura do antigo acesso ao Terminal pela avenida Brasil.

A passagem foi fechada para a abertura de outra, improvisada, com uma viga de madeira sustentando gradis retorcidos, ignorando a segurança da faixa de pedestre contínua da via pública e submetendo os passageiros à disputa de espaço com os ônibus.

Não bastasse o risco de atropelamento, o acesso livre ao Terminal Urbano inviabilizou um direito garantido ao usuário que opta pelo pagamento da tarifa em dinheiro para usufruir da integração do transporte coletivo.

Catraca livre: acesso inviabilizou integração para quem paga tarifa do ônibus em dinheiro

O sistema é utilizado pelos usuários que dispõem do Marília Card, um cartão recarregável oferecido gratuitamente pela Associação Mariliense de Transporte Urbano de Marília (AMTU), que representa as concessionárias.

Sem o cartão, pela opção que o Direito do Consumidor lhe dá, e com o terminal aberto, o passageiro fica obrigado a pagar mais R$ 5,75 para mudar de ônibus em uma mesma viagem. Com o Marilia Card, a transferência pode ocorrer em até uma hora.

PARALELEPÍPEDOS

Antes que os atuais gradis sejam retirados, trabalhadores iniciaram perfurações na avenida Brasil, que encolherá sua largura em pelo menos um metro para ceder mais espaço às manobras dos ônibus no Terminal Urbano.

A incisões têm exigido esforço de homens e equipamentos devido à resistência de solo por paralelepípedos que bastavam como matéria-prima para a instalação de ruas e avenidas, ainda que fossem no centro de Marília.

Perfurando a história: paralelepípedos da década de 1930 foram expostos em ampliação do Terminal

A utilização exclusiva destes pequenos blocos de rocha como pavimentação data dos primeiros anos da cidade, no final dos anos 1930, por ocasião da instalação da antiga estação ferroviária, vizinha ao Terminal Urbano.

Funcionários instalam paralelepípedos na avenida Brasil nos anos 1930; o Terminal fica à direita na foto

Muito antes de servir ao equipamento de transporte coletivo urbano, inaugurado em 1988, aquela via de paralelepípedos atendia ao fluxo de trânsito dos ferroviários que ali residiam e dos passageiros dos trens diários, extintos por aqui desde 14 de março de 2001.

O avanço da pavimentação asfáltica tratou de cobrir estes rastros da história de Marília, eliminando o que restava de permeabilidade do solo, permitindo a recorrência da passagem de milhões de reais em petróleo, areia, brita e piche.