Ex-deputado estadual reassume chefias do Executivo e do Legislativo afiançado pelas urnas. Modelo de governo busca reintegração de credibilidade a cargo de gestor. Eleição de Danilo restabelece subserviência de segundo poder de Marília. Ato governista encosta Abelardo a área restrita de relevância
Empossado prefeito de Marília pela segunda vez, Vinicius Camarinha (PSDB) entregou sua declaração pública de bens – porém, lacrada – à Câmara Municipal de Marília em sessão solene realizada nesta quarta-feira (1).
À Justiça Eleitoral, o ex-deputado estadual havia declarado em campanha apenas um patrimônio de R$ 234 mil – três imóveis e uma aplicação de renda fixa – excluindo qualquer outro imóvel em seu nome.
Capitalizado pelas urnas, Vinicius dobrou suas posses nas fazendas políticas locais: retomou a sede do Executivo e assumiu o controle do Legislativo, pelo usucapião de seus antecessores, afiançado pelo voto popular.
Na prática, ele acumulará, ao menos pelos próximos quatro anos, pleno exercício nos dois poderes municipais, restando aos órgãos de controle social a fiscalização de seus atos – em que este blog se inclui, por ofício.
TEMPERATURA EXECUTIVA
Vinicius iniciou o dia de posses pelo próprio poder. Conduzido por motorista próprio, desceu rápido e juntou-se a Rogerinho (PP), enquanto Daniel Alonso (PL) estacionava o próprio carro na companhia da ex-primeira-dama, Selma Regina Alonso.
Ambos não se aproximaram até que estivessem no 2º andar. Alonso apareceu pelo guichê e convidou Vinicius a acompanhá-lo ao gabinete que havia acabado de ser aberto, sem ar condicionado ligado. “Deixou quente pra gente ficar pouco”, brincou Vinicius.
A transmissão do cargo foi precedida de breves discursos em clima de cordialidade. Daniel falou em ciclo encerrado após a “experiência incrível” de ter sido prefeito e desejou “boa sorte” a Vinicius, que enalteceu o “momento da democracia”.
O ato foi incluso em ata que registra as transições entre prefeitos desde 1936 e já estava em suas páginas finais. Àquela altura da breve reunião, os assessores já haviam instalado um ventilador para rebater o calor.
Mas, foi só Daniel Alonso sair do gabinete como ex-prefeito para que a temperatura subisse novamente pelas críticas de Vinicius ao seu antecessor pela indisponibilidade de recursos para pagamento dos servidores.
DEMARCAÇÃO LEGISLATIVA
A presidência indireta de Vinicius no Legislativo será representada por Danilo da Saúde (PSDB). A escolha restabelece uma relação servil do segundo poder de Marília com o Executivo, como fora recentemente com Marcos Rezende (PSD) entre 2019 e 2022.
Com apoio garantido de 12 vereadores eleitos por partidos de sua coligação, Vinicius ampliou sua base distribuindo poder a ex-governistas de Alonso, elegendo Professora Daniela e Wilson Damasceno (agora, ex-opositor) como primeiro e segundo vice-presidentes.
Elio Ajeka (PP) e Vânia Ramos (Republicanos) foram mantidos na primeira e segunda secretarias. Primeira mulher a presidir uma sessão de posse, Fabiana Camarinha (Podemos) foi eleita terceira secretária e o novato Batata Corredato (PP), correligionário ao vice-prefeito Rogerinho (PP), ficou com a quarta vaga.
A composição da Mesa Diretora é um sinal de Vinicius ao pai, que voltou a frequentar o Legislativo após a eleição da esposa Fabiana. Parceiro de longa data de Abelardo, Luiz Eduardo Nardi (Podemos) foi preterido para ocupar a presidência pela 3ª vez, e terá de esperar sua vez, se houver espaço político.
No atual cenário legislativo, a única voz dissidente possível no plenário é do agente federal Júnior Féfin (União Brasil). Vereador reeleito com maior número de votos, ele se posiciona como independente, sem cargos solicitados ao Executivo.
EM RECONSTRUÇÃO
De volta ao governo de Marília após oito anos do mandato reeleito de Daniel Alonso, Vinicius recebeu da população uma nova oportunidade para reescrever a memória de sua gestão 2013-2016, reprovada pelo voto.
A sua proposta de “governo humanista”, repetida em diferentes atos públicos nesta quarta-feira (1), visa embrulhar uma proposta de governo de proximidade para resgatar sua credibilidade como gestor da cidade.
Neste ‘pacote’ de ‘regoverno’, Vinicius incluiu demandas de forte apelo popular como zerar as filas de exames médicos e a retirada dos radares, como “primeiro ato”, sem explicar como pagar eventuais indenizações.
Pela 5ª vez, um Camarinha assume a chefia da cidade. Em outras três, foi Abelardo (1983-1988, 1997-2000 e 2001-2004). Somando o governo que se inicia, a família mais tradicional da política de Marília somará 22 anos no poder.
ÁREA RESTRITA
Abelardo testemunhou in loco o retorno da família aos poderes, seja por Vinicius ou com Fabiana. Por seu parentesco, assentou-se nos lugares reservados às autoridades e convidados nas solenidades desta quarta-feira (1).
A sua visibilidade, no entanto, restou percebida apenas por acompanhar a esposa vereadora no início da posse no plenário da Câmara e, em segundo ato, ser elevado ao palco do teatro municipal na posse do secretariado.
Seja no Legislativo ou ato do Executivo, o ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado estadual e federal foi mantido em área restrita de relevância, sujeitado ao silêncio dos discursos, ainda que fosse pai do prefeito eleito.
Não por acaso: o protocolo seguiu à risca a orientação do filho que, no teatro, apenas citou o pai, ao final de uma longa lista de familiares, autoridades e convidados, por ter convidado um tenor à solenidade.
Apesar das restrições políticas e pessoais impostas nesta quarta-feira (1), Abelardo tem um governo e uma legislatura inteiros para discursar, ora por si, em rádio e sites parceiros, ora nos corredores legislativos, apesar de Vinicius.
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