Padre condenado por armazenamento de pornografia infantil tem pedido aceito pelo Vaticano e deixa clero na Diocese de Marília. Solidão presbiteral persiste em quase metade das comunidades católicas da jurisdição. Ordenação quíntupla prevista para 2025 acelera lenta reposição nas sacristias
Disponível para ser acessado há poucos dias, até que seja distribuído em versão impressa, o Guia Diocesano de Pastoral de 2025 da Diocese de Marília terá o nome de um sacerdote a menos em sua lista atualizada anualmente.
E não se trata do padre canadense radicado em Marília, ‘Pedro’ Léo Ducharme, religioso de São Vicente de Paulo, falecido em 20 de dezembro de 2024, aos 92 anos, e sepultado no Cemitério da Saudade.
A baixa é no clero diocesano: Denismar Rodrigo André não aparece mais no Guia Diocesano, nem no site da diocese, após figurar no presbitério enquanto esteve afastado ad cautelam desde julho de 2019.
À época, com apenas oito meses de ordenação presbiteral, o padre foi preso acusado de armazenamento de pornografia infantil. Solto no mesmo dia após pagamento de fiança, foi condenado em julho de 2023.
A pena de um ano de prisão foi revertida ao pagamento de quatro salários mínimos. A defesa segue recorrendo na Justiça – o processo está em segredo. Procurado pelo blog, o advogado não manifestou, a exemplo de Denismar.
DISPENSA
O desligamento do padre do clero de Marília acontece após a Santa Sé aceitar o seu pedido de dispensa sacerdotal enviado ao Vaticano. A tramitação termina nas mãos do papa – hoje, Francisco – que emite um certificado.
“O padre Denismar recebeu a resposta afirmativa da Sé Apostólica e, por isso, não pertence mais ao clero diocesano de Marília. Por conseguinte, está dispensando das ordens sacras e das promessas sacerdotais, inclusive do celibato”, confirmou, em nota, a Cúria local.
Na prática, Denismar não tem mais obrigações cerimoniais e pode se casar, mas não se torna um “ex-padre”, porque pela doutrina católica, ainda que seja demitido – como ocorreu com o padre Clécio Ribeiro -, continuará sacerdote em toda sua existência.
Além do envolvimento em crimes, o matrimônio é um dos motivos mais comuns para pedidos de dispensa sacerdotal. Foi o caso, por exemplo, do padre Ivan Carlos Desperate, que deixou o clero de Marília em 2013 para se casar.
Desperate pastoreava a Paróquia São João Batista, do Jardim Pérola, na zona oeste da cidade quando deixou a batina. Desde 2019, os padres casados estão permitidos pelo papa a prestarem serviços às comunidades e instituições católicas – só depende do bispo.
SOLIDÃO NAS SACRISTIAS
Denismar já havia sido substituído na Paróquia Nossa Senhora do bairro Jóquei Clube, da zona sul, desde seu afastamento, em 2019. Ele havia sido nomeado administrador paroquial e estava sozinho em sua sacristia.
Seis anos depois, a realidade é comum em quase metade das comunidades católicas da Diocese de Marília. Hoje, das 66 paróquias, 32 (48,4%) são conduzidas por um padre – sem contar as que dispõem de diáconos.
Ainda segundo o Guia Diocesano 2025, onze padres continuam a cuidar de duas ou até três comunidades simultaneamente, como ainda é o caso padre Rogério de Lima Mendes em Sagres (SP), Salmourão (SP) e Osvaldo Cruz (SP).
Ao todo, o clero da Diocese de Marília soma atualmente 93 padres. São 68 diocesanos e 25 religiosos. O mais jovem, Guilherme Ulian, completou 28 anos neste mês. O decano, Nivaldo Resstel, com 91, é o primeiro sacerdote da diocese, ordenado em 1959.
As comunidades são servidas por 31 diáconos permanentes – homens casados consagrados à vida religiosa católica. Eles estão em apenas 21 das 66 paróquias – ou seja, 31,8%. As demais 41 (62,1%) seguem sem.
NOVAS ORDENAÇÕES
Enquanto a Diocese de Marília seleciona candidatos para a segunda turma de diáconos permanentes – havia 55 concorrentes –, o presbitério está mais próximo de receber novos membros em 2025.
Em dezembro de 2024, foram ordenados cinco diáconos provisórios com idades entre 29 e 35 anos. Fabricio Vieira, Jean Pedro de Jesus de Paula, João Gabriel de Souza Ferreira, João Victor Ribeiro Silva e Pedro Rogério Timóteo devem assumir a batina neste ano.
Inclusos novamente no Guia do Diocesano, os seminaristas eram 18 até a publicação. Eles estão espalhados do propedêutico (iniciação) às faculdades de Filosofia e Teologia. Pelo estágio de estudos, as ordenações deverão ser a conta gotas nos próximos anos.
Em 2018, a Diocese de Marília ordenou nove padres. A safra foi histórica. Dos nove, seis permaneceram no ministério; um se afastou e voltou; outro foi ‘encostado’ após três pedidos de transferência pelos párocos ao bispo. O último foi Denismar, agora fora do clero.
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