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FIM DO VIGARIATO

Atualizado: 8 de mai.

Cônego João Carlos Batista perde cargos em conselhos diocesanos em meio às investigações de denúncias contra ele, outros padres e até o bispo

Homem de confiança do bispo, cônego João Carlos está sob investigação por conta de supostos desvios encobertos pela igreja

O cônego João Carlos Batista não será mais o vigário geral da Diocese de Marília em 2019. E não é só: o atual pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe, do bairro Costa e Silva, zona sul de Marília, também não fará mais parte do Conselho de Presbíteros e nem do colégio de consultores.

O nome do ainda vigário-geral - até dia 31 de dezembro - não consta entre os escolhidos pelo bispo de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini, seja para seguir no próprio cargo como também para compor o conselho e o colégio a partir de 1º de janeiro, segundo a Circular 10/2018, divulgada nesta sexta-feira (28).

O cônego foi o principal excluído das listas. Ele será substituído no posto de vigário geral - o mais alto do presbitério diocesano, abaixo apenas do bispo - pelo pároco da Paróquia São João Batista de Marília, o padre Maurício Pereira Sevilha que, por sua vez, deixa a chancelaria, cujo cargo será ocupado pelo padre Adeflôr Xavier Pereira Júnior, que havia sido designado administrador paroquial das paróquias de Sagrado Coração de Jesus, em Marília e de Nossa Senhora Auxiliadora, do Distrito de Avencas.

No mais, o bispo manteve praticamente a mesma relação de padres que já compõem o conselho e o colégio. Com a exclusão do cônego, ele optou apenas por reorganizar as funções que ficaram vacantes por conta das transferências que ele já havia definido e divulgado em 1º de novembro (veja aqui).

O principal 'beneficiado' desta rápida troca de cadeiras foi o padre Marcos Roberto Cesário da Silva. Recém-empossado pároco de Santa Rita de Cássia, de Marília, ele ganhou o assento do colégio de consultores do padre Valdo Bartolomeu de Santana, pároco de Santo Antônio, de Junqueirópolis (SP); além de assumir a coordenação do Centro Diocesano de Pastoral (CDP) no lugar do padre Ademilson Luiz Ferreira, que já celebra nas paróquias de São José, em Panorama (SP) e de Nossa Senhora das Mercês, em Santa Mercedes (SP).

Marcos Roberto Cesário da Silva já era o vigário episcopal da região II e será substituído na função pela única novidade da 'nova' composição do Conselho de Presbíteros, o padre Carlos Roberto dos Santos, pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, de Tupã (SP). Outro que agora compõe o Colégio de Consultores é o novo vigário geral, o padre Maurício Pereira Sevilha, no lugar de seu antecessor no novo cargo.

João Carlos Batista havia sido nomeado vigário geral em dezembro de 2013 por Dom Luiz Antonio Cipolini, quatro meses após a sua posse episcopal. Batista substituiu o também cônego José Carlos Dias Toffoli, hoje pároco da Sagrada Família de Marília. Aos 62 anos, o futuro ex-vigário diocesano tem 33 anos de ordenação sacerdotal.

OUTRO LADO

O cônego procurou o autor deste blog na manhã deste sábado (29) e refutou que tenha sido 'retirado' pelo bispo. Ele afirmou que a saída do cargo partiu de uma decisão pessoal dele, confirmada em uma carta de renúncia, entregue recentemente ao bispo diocesano, que teria aceitado.

João Carlos Batista avaliou como tempo suficiente de contribuição o período de cinco anos em que ocupou o cargo de vigário geral e que agora se dedicará com maior exclusividade à rotina de sua paróquia, à sua saúde e no acompanhamento das denúncias que pesam contra ele.
O padre Maurício Pereira Sevilha é o novo vigário geral da Diocese de Marília a partir de 1º de janeiro de 2019

'NOVAS' COMPOSIÇÕES

Confira abaixo a 'nova' formação dos cargos diocesanos, do Conselho dos Presbíteros e do Colégio de Consultores, válida a partir de 1º de janeiro de 2019:


Cúria Diocesana

Pe. Maurício Pereira Sevilha

Novo vigário geral da Diocese de Marília

Pe. Carlos Roberto dos Santos

Novo vigário episcopal da região II

Pe. Adeflôr Xavier Pereira Junior

Novo chanceler do bispado

Jair José Chaves

Leigo, mantido como ecônomo


Conselho de Presbíteros

Dom Luiz Antônio Cipolini (presidente)

Pe. Maurício Pereira da Silva (novo vigário geral)

Pe. Marcos Roberto Cesário da Silva (novo coordenador diocesano de pastoral)

Pe. José Orandi da Silva (vigário episcopal da região I)

Pe. Carlos Roberto dos Santos (novo vigário episcopal da região II)

Pe. Valdemar Cardoso (vigário episcopal da região III)

Pe. Rui Rodrigues da Silva (representante dos presbíteros)

Pe. Adriano dos Santos Andrade

Pe. Edson de Oliveira Lima

Pe. José Carlos Vincentin

Pe. José Afonso Maniscalco

Pe. Rogério de Lima Mendes

Pe. Wagner Antonio Montoz

Pe. Wilson Luis Ramos


Colégio de Consultores

Pe. Maurício Pereira Sevilha (novo)

Pe. José Orandi da Silva

Pe. Carlos Roberto dos Santos

Pe. Waldemar Cardoso

Pe. Marcos Roberto Cesário da Silva (novo)

Pe. Wagner Antonio Montoz



ESTATUTO

Além da retirada dos cargos do cônego João Carlos Batista, a outra principal novidade na circular divulgada nesta sexta-feira (28) pelo bispo diocesano foi a publicação do Estatuto do Colégio de Consultores da Diocese de Marília. Composto por somente 15 artigos, o documento organiza o funcionamento do órgão.

O Conselho dos Consultores "é um instrumento importante de aconselhamento do bispo no governo da diocese em questões de administração e em assuntos de particular importância para a diocese e para o presbitério, com voto consultivo e deliberativo", segundo explica Dom Luiz na circular.

"Juntamente com os outros conselhos e organismos administrativos e pastorais da diocese, o colégio de consultores é um sinal eminente de que desejamos (que) o discernimento do Espírito Santo se concretize no governo da Diocese de Marília para o bem de todo o Povo de Deus a nós confiado", complementou o bispo, no mesmo documento.
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DENÚNCIAS

A substituição do vigário geral da Diocese de Marília acontece apenas 45 dias depois da publicação de uma nota assinada por Dom Luiz (leia aqui na íntegra), na qual ele dizia estar em andamento "uma série de investigações e apurações sigilosas, como coletas de provas e testemunhos" em face às denúncias recebidas pela Cúria contra "alguns sacerdotes".

Ainda na mesma nota, Dom Luiz salientou que os fatos precisavam ser apurados para que a veracidade ou não das informações fossem confirmadas "a fim de que as providências adequadas possam ser aplicadas". Ele não justifica na circular publicada nesta sexta (28), no entanto, os reais motivos que o fizeram substituir o vigário geral. Apenas agradeceu, "sinceramente", o "trabalho e a dedicação do cônego João Carlos Batista".

O fato é que o vigário diocesano que está para deixar o cargo é o principal alvo, ao lado do próprio bispo, das denúncias anônimas distribuídas no primeiro semestre deste ano em uma carta intitulada "aos meios de comunicação de Marília e região", cuja existência foi divulgada ao público em geral em novembro de 2018, inclusive através deste blog (leia aqui).

Entre as muitas acusações que pesam contra o cônego está um suposto flagrante de masturbação praticada por ele, ao vivo, em uma sala online de bate-papo. As imagens do padre nu correram o presbitério, a ponto de gerar uma manifestação formal de solidariedade, a circular 03 de 20 de maio de 2018, assinada pelo bispo diocesano e distribuída aos "padres, religiosos e diáconos" por ocasião de um retiro em Agudos (SP).

Ou seja: seis meses antes de anunciar que estava investigando as denúncias anônimas, Dom Luiz já tinha conhecimento do suposto envolvimento de seu próprio vigário geral em um escândalo - isso, sem contar as demais e mais sérias acusações, cujo teor segue sob sigilo e investigação - e não apenas pela Cúria.
Papa Francisco avisou que Igreja "vai levar à justiça" os membros do clero envolvidos com a criminalidade

TOLERÂNCIA ZERO

Segundo apurou este blog, as denúncias contra os padres citados na carta entregue à imprensa de Marília e região - e muitas outras -, e que cujos desvios comprometeriam até o próprio bispo já chegaram à Nunciatura Apostólica e até à Santa Sé. Ambas confirmaram o recebimento.

A resposta do Vaticano promete ser rigorosa, caso sejam comprovadas as denúncias, sobretudo depois do 'recado' que o Papa Francisco transmitiu a todo clero em seu discurso de saudação de natal na Cúria Romana, três dias antes da festa cristã (leia na íntegra aqui).

O Santo Padre lamentou o "mal do abuso de poder, de consciência e sexual" praticado por "ministros que dilaceram o corpo da igreja, causando escândalo e desacreditando a missão salvífica da igreja e os sacrifícios de muitos de seus confrades". E avisou: " a Igreja não será poupada em fazer todo o necessário para levar à justiça quem cometeu tais crimes".


Francisco ainda anunciou que, em fevereiro, vai analisar, com apoio de especialistas, "sobre como proteger as crianças, como evitar tais desventuras (os abusos sexuais), como tratar e reintegrar as vítimas, como fortalecer o treinamento em seminários". "Vamos tentar transformar os erros cometidos em oportunidades para erradicar esse flagelo não apenas do corpo da igreja, mas também do da sociedade", afirmou.

O papa também agradeceu calorosamente aos "operadores de mídia" que "tentam desmascarar esses lobos e dar voz às vítimas". "A Igreja pede para não ficar em silêncio e trazê-lo objetivamente à luz, porque o maior escândalo nesta questão é encobrir a verdade", concluiu.

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