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MARÍLIAS DE VERDADE

Conheça personagens reais da história oficial masculina da cidade que tem nome de mulher. Pseudônimo idealizado por Tomás Antonio Gonzaga fica na memória dos registros de nascimento. ‘Cidade Menina’ chega aos 96 com maioria feminina só nas estatísticas


'Mulher e Cidade Marília': A história feminina iniciada pelo 'M' de memórias de mulheres
'Mulher e Cidade Marília': A história feminina iniciada pelo 'M' de memórias de mulheres

Diz a história oficial que Bento de Abreu Sampaio Vidal (1872-1948) inspirou-se em uma obra poética de Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810) para denominar suas terras em disputa de poder com Antonio Pereira da Silva (1881-?).

Deputado estadual, Bento de Abreu viraria nome da avenida principal, de estádio, educandário, escola e ganhou estátua no Paço Municipal – quase em frente ao busto a Pereira, instalado apenas em 2017, na Praça Saturnino de Brito.

Pela conveniência política da chegada dos trilhos às suas terras, Bento de Abreu também se incumbiu de denominar a estação alfabética da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1868-1971) com ‘M’ de Marília, de ‘Marília de Dirceu’.



O batismo ferroviário se tornaria o nome do distrito alçado a município pela Lei 2.320 de 24 de dezembro de 1928 – cuja comemoração passaria para 4 de abril, data da emancipação político-administrativa, em 1929.

 

MULHERES REAIS

Desbravada pelo protagonismo masculino, em que pese a participação inaudita de mulheres, sujeitadas ao segundo plano na história oficial, Marília teve seu nome inspirado além dos poemas, mas em uma mulher de verdade – ou duas.

A principal referência se faz a Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão (1767-1853), noiva de Gonzaga por poucos meses de 1789, ano da prisão do autor pela coroa portuguesa por seu envolvimento com a Inconfidência Mineira.

O resgate à memória daquela que Gonzaga amou é retratada no documentário ‘Marília das Minas Gerais’, dirigido pelo jornalista Leonardo Moreno e indispensável para se conhecer a mulher por detrás da inspiração ao nome do livro e da cidade.

No entanto, Marília pode não ter sido apenas Maria Doroteia, mas também Maria Joaquina Anselma de Figueiredo, de quem se tem pouca informação, senão de que teria sido um rica viúva e amante de Gonzaga.



 

MULHERES DA HISTÓRIA

Povoada por seus pioneiros, Marília teria seus dias registrados pelas mãos do poeta e jornalista Baltazar de Godoy Moreira (1898-1969) em ‘Marilia, Cidade Nova e Bonita’, primeira obra historiográfica do município, publicada em 1936.

A monografia ‘Marília’, do professor Glycerio Povoas (1894-1963), lançada em 1947, se juntaria a outra referência masculina como ‘Marilia, Sua Terra Sua Gente’ (1989), de Paulo Corrêa de Lara (1902-2001). A mais recente é de 2024: ‘Marilia: 95 anos de progresso, história e personagens’, de Celso Cesário Motta.

As mulheres também legaram seus olhares na construção histórica da cidade. A professora Rosalina Tanuri, 89 anos, produziu obras como ‘Marília, no Tempo e na Saudade’ (2001), ‘Marilia, chão do nosso amor’ (2003) e ‘Marilia, Feitos e Festas’ (2015).



À decana se somaram mulheres comprometidas com a trajetória de Marília como a atriz Maria Cecília Alves, a pioneira do rádio Rosina de Moraes, a professora Diva Corrêa Miller e a bibliotecária Wilza Aurora Matos Teixeira, entre outras.

 

NOSSAS MARÍLIAS

A menos de quatro anos de completar seu centenário – a ser completado em dezembro de 2028 – Marília foi se distanciando com o passar dos anos da referência de seu nome de batismo às mulheres que por aqui nasceram, viveram e já partiram.

No Portal da Transparência do Registro Civil no Brasil não constava o registro de nascimento de nenhuma Marília na cidade entre 2015 até 2024. A última atualização era de 23 de dezembro do ano passado na data desta publicação.

A cidade das Helenas, Cecílias e Alices ainda tem suas Marilias. Aos 22 anos, uma delas cursa Medicina. “Ter o nome da cidade onde nasci e estudo é como carregar um símbolo de identidade e pertencimento”, diz.


Marilia de Oliveira: "Estar aqui, sendo Marília em Marília, traz um sentimento de raízes e conquistas"
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Marilia Oliveira André, 34 anos, já seria Marilia mesmo antes mesmo de nascer pela paixão de seu pai pela cidade. Assessora parlamentar, ela diz retribuir, através política, o povo da terra cujo berço nasceu.


Marília André: "Meu pai sempre falou que se tivesse uma filha daria o nome de Marília"
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Na advocacia, é a ‘Marília de Marília’ que se apresenta aos clientes. “É uma honra que carrego com orgulho. Mesmo não tendo nascido aqui, foi nesta cidade que construí minha história, minha carreira e minhas raízes”, afirma Marília Verônica Miguel.


Marília Miguel: "Levar o nome na cidade que vivo e trabalho é mais do que coincidência, é pertencimento"
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MAIORIA FEMININA

Apesar das poucas Marílias, as mulheres são maioria na outrora ‘cidade menina’. Elas somavam 52,1% da população segundo dados de 2023 da Fundação Seade. Eram 108 mulheres para cada 100 homens na cidade.

Nas eleições municipais de 2024, 93.002 mulheres compareceram às urnas ante 79.841 homens para votarem em 2/3 terços de nomes masculinos – no caso, 211 – entre 106 femininos por conta de cota partidária obrigatória.

A cidade que se chama por nome de mulher nunca teve uma prefeita para chamar de sua. Eleito para um segundo mandato, Vinicius Camarinha (PSDB) é o 30º homem a assumir o governo da cidade desde 1929.



Na Câmara Municipal, das 222 pessoas que já assumiram mandato legislativo, apenas nove foram mulheres em 96 anos. Quatro delas estão em uma mesma literatura pela primeira vez entre 13 homens: Fabiana Camarinha (Podemos), Professora Daniela (PL), Rossana Camacho (PSD) e Vania Ramos (Republicanos).





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