Terminal aberto expõe itinerários divergentes de gestão entre prefeitura e concessionárias no transporte coletivo de Marília. Transtornos de passageiros seguem fora do tráfego nas redes sociais de Vinicius
Madrugada de 17 de março. Usuários do transporte público de Marília se deparam com os portões fechados do Terminal Coletivo Urbano, no centro da cidade e da retomada rumo à rotina de estudo e trabalho da segunda-feira.
Funcionários das empresas Grande Marília e Viação Sorriso dispersam a massa de mochilas, tal qual uma boiada, rumo às paradas instaladas no entorno na Catedral São Bento, uma quadra além do terminal batizado com nome de bispo.
Distribuídas nas calçadas das ruas Sergipe e Paraíba, as placas baixas com identificação das linhas desafiam a fé do usuário na chegada ao destino e horário certos enquanto os ônibus disputam espaços no meio fio alçado a ponto de embarque e desembarque.
A segunda-feira amanhece e clareia a realidade imposta pela reforma do velho terminal, expondo os divergentes itinerários de gestão da Prefeitura de Marília e das concessionárias no transporte coletivo urbano de Marília.
O rush matinal desafia os agentes da Empresa Municipal de Mobilidade Urbana de Marília (Emdurb) na orientação do fluxo saturado de ônibus enquanto a reforma em uma calçada concorre com um dos pontos improvisados na rua Paraíba.
DESCAMINHOS
Remanejados à praça pública, os passageiros iniciam a semana à deriva e em condições até piores das que já se encontravam até domingo (16): sem proteção a sol e chuva, sem banheiro, sem água e, em alguns casos, sem mobilidade para chegar ao coletivo.
Sem estrutura e funcionários suficientes para atender à demanda de reclamações, a Associação Mariliense de Transporte Urbano de Marília (AMTU) expôs a Marília que não cuida de seu passageiro em serviço sob concessão na nova gestão municipal.
Apenas no período da tarde, ainda na segunda-feira (17), foram instaladas novas tendas e caixas d’água cheias de gelo e copos de água descartáveis e apenas dois banheiros químicos. À noite, no entanto, o serviço ficou à mercê da insegurança pública.
Sem comunicação oficial pelo site da AMTU, os passageiros que pagam a passagem em dinheiro souberam apenas no improviso que poderiam entrar pela porta de trás dos ônibus, como fariam normalmente no terminal.
Caso contrário, poderiam ter que pagar mais R$ 5,75 para seguir viagem, exceto que solicitassem a emissão gratuita do cartão magnético recarregável utilizado para pagamento de tarifa e integração de linha fora do terminal.
Ainda na segunda-feira (17), a AMTU informaria, em nota à imprensa, que ressarciria passageiros que pudessem “comprovar que não conseguiu realizar a integração dentro das regras estabelecidas”.
Nesta quarta-feira (19), no entanto, a associação já informava que “a integração fora do terminal fechado tem uma única forma de controle, através do cartão Marilia Card, conforme previsto em lei”.
Ou seja, o passageiro que opta por pagar em dinheiro terá que desembolsar em dobro para ir e voltar se tiver que tomar outro ônibus no ‘terminal da catedral’. Na soma, gastará R$ 23 por dia.
Ainda na tarde do primeiro dia do terminal aberto, a associação instalaria ponto de orientação aos passageiros. Nas placas, o QR Code de nada valia para conduzir os passageiros à página de linhas e horários, supostamente invadida por hacker.
FORA DE REDE
Ainda nas primeiras horas da manhã de segunda-feira (17), o prefeito Vinicius Camarinha (PSDB) apareceu no Terminal Coletivo Urbano onde fez o primeiro registro diário de governo na semana para suas redes sociais.
Em vídeo, o prefeito mostra as instalações em início de retomada de reforma e lista melhorias – iluminação, banco, pintura, alambrado, ampliação de cobertura, banheiro, bebedouro com água gelada e até paisagismo. “Um lugar agradável para o trabalhador”, diz.
Vinicius não cita o improviso no transporte público que acontece a uma quadra dali, onde ele sequer havia visitado até a publicação deste texto, ignorando o transtorno dos passageiros, ao contrário de sua presença no caos do serviço terceirizado da Saúde.
Para reformar o terminal, Vinicius aproveita os recursos e a mão de obras disponíveis no fim da linha de contrato firmado em 2019 entre o município e o governo federal. O valor total é de R$ 1.145.000,00, com contrapartida de R$ 190 mil dos cofres da cidade.
Nesta quarta-feira (19), a Prefeitura de Marília informou, por sua assessoria de imprensa, que as reformas “devem se estender até o dia 27” – quinta-feira da próxima semana. Até lá, ou mais, o passageiro segue em rotina improvisada no transporte público de Marília.
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