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Foto do escritorRodrigo Viudes

O FIM DA LINHA É AQUI

Atualizado: 7 de mai.

Relação de Marília com seus trilhos é reflexo de como a ferrovia desanda abandonada pelo Brasil afora. Concessão federal segue sem Rumo na região


Passagem de nível com asfalto sobre os trilhos e pontaletes (ao fundo), no centro de Marília

Pelo menos um terço dos trilhos deitados em esplêndido solo brasileiro está em completo abandono, segundo dados divulgados no começo deste mês de junho pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Em números: 8,6 mil km de 28,2 mil - cerca de de 30%.

Ou seja: a cada dez quilômetros ferroviários, um pouco mais de três praticamente servem para qualquer outra coisa, menos os trens. E acredite se quiser: nesta conta do abandono ferroviário não está incluso o trecho ferroviário que transpassa Marília de Norte a Sul e vice-versa.



Por mais degradada que a ferrovia esteja em Marília, os trilhos locais são contados entre os 10 mil km classificados como de 'baixa operação'. Ou quase nenhuma, pelo menos desde 2009, quando passaram por aqui os últimos comboios carregados açúcar para exportação ao Porto de Santos (SP).

Eram os tempos da Ferroban, a primeira empresa que assumiu o trecho em Marília depois do processo de concessões que sepultou a Ferrovias Paulistas S/A (Fepasa), em 1998. Apenas por obrigação contratual, a empresa transportou os últimos passageiros, até o derradeiro trem de 15 de março de 2001.


Passagem de 'triplex' de locomotivas da ALL pelo centro de Marília, em 2008 | Crédito: Fábio Vasconcellos

Entre 2002 e 2006, os trilhos foram pouco utilizados pelos cargueiros da Brasil Ferrovias. Os últimos fretes, os de 2009, foram transportadas pela América Latina Logística (ALL) que, por sua vez, foi incorporada em 2014 pela nova concessionária do trecho, a Rumo Malha Paulista.

A empresa manifestou interesse em reativar o transporte ferroviário na região em reunião organizada pelo Ministério Público Federal (MPF), em julho de 2017. No entanto, condicionou a retomada dos serviços à renovação do contrato de concessão, o que ainda não aconteceu.

Até agora, Rumo não enviou, sequer, um auto-de-linha para inspecionar a situação precária da ferrovia na região. Nem se quisesse: há pontos entre Bauru e Marília com interrupções provocadas pelo crescimento de vegetação e, pior, com trilhos suspensos.


Trilhos suspensos em trecho urbano de Marília, ao lado da avenida das Esmeraldas

A indiferença histórica das concessionárias transformou a ferrovia em uma 'intrusa' em Marília. Não por acaso, de quando em quando alguma autoridade engata o discurso da retirada dos 'trilhos do centro', sem se importar com os custos bilionários que uma obra como esta demandaria.

Afinal, se quisesse, de fato, transpor seus trilhos, a cidade teria que sofrer alguma movimentação intensa de tráfego - o que não é o caso - e, ainda assim, convencer alguma fonte de fomento a construir pontes colossais para permitir que a ferrovia fizesse o contorno, sobre os vales.

INVASÃO URBANA

Sem trens, a ferrovia no trecho urbano de Marília anda carregada de tudo que não lhe serve: muito lixo, entulhos, vegetação. No centro, até de estacionamento. A falta de uso é tanta que a prefeitura chegou a cobrir os trilhos com massa asfáltica na maioria das passagens de nível.

Não bastasse essa invasão do rolamento urbano municipal sobre leito ferroviário federal, ainda foram fincados pontaletes (e de trilhos!) que impedem, parcialmente, o acesso de carros sobre os trilhos mas, sobretudo, a chegada de qualquer veículo ferroviário que se atreva aparecer por aqui.

Ou seja, até que não mude de linha, 90 anos depois (desde 1928) de recepcionar com pompas e discursos o primeiro trem de passageiros da saudosa Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1868-1971), Marília voltou a ser o fim da linha para sua própria ferrovia. E sem nenhum apito.


Instalação de trilhos em Marília, em 1928. Crédito: Comissão de Registros Históricos de Marília

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