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Foto do escritorRodrigo Viudes

PONTAPÉ ELEITORAL

Atualizado: 7 de jan.

Copa São Paulo de Futebol Júnior põe ‘assessor-cartola’ do MAC em campo de disputa à titularidade da Prefeitura de Marília. Gastos públicos de ‘prefeito-presidente’ no Abreuzão já somam mais R$ 2 milhões desde 2021 e podem triplicar na temporada das urnas. De Delfino a Alonso, dirigentes maqueanos repetem tabelinha futebol-política


Passe de cargo: vice do MAC Alysson Alex é pré-candidato cotado para Prefeitura de Marília | Foto: Reprodução

Apesar do voto de confiança da ampla maioria dos torcedores que ocupou a capacidade reduzida ao público no estádio municipal “Bento de Abreu Sampaio Vidal”, o Abreuzão, o Marília Atlético Clube (MAC) começou com pé esquerdo sua 23ª participação na Copa São Paulo de Futebol Júnior.

A derrota para o Bangu (RJ), por 3 a 0, no entanto, teve seus dois primeiros passes à direita: um, simbólico, do vice-presidente do clube, Alysson Alex Souza e Silva e o outro, oficial, do atacante Lucas, do time carioca.

Autorizado a pisar no gramado pela Federação Paulista de Futebol (FPF), conforme consta na súmula da partida, o cartola maqueano deu seu ‘pontapé eleitoral’ à decisiva temporada 2024, seja nos gramados ou nas urnas de outubro.

JOGADA ARRISCADA

Assessor especial de governo do prefeito reeleito Daniel Alonso (sem partido), o advogado é um dos principais pretendentes à única vaga de acesso à ‘cabeça-de-chapa’ da atual administração à Prefeitura de Marília.

Gestor do MAC desde 2020 por indicação do ‘prefeito-presidente’ do clube, Alysson tem como principal campo de atuação política – e, por ora, pré-eleitoral – o futebol, na tentativa da ascensão de conquistas em votos.

Por enquanto, em seu currículo de campanha de cartola pré-candidato constam o título paulista feminino amador (2023) e, no masculino, dois vices na Copa Paulista (2020 e 2022) e duas participações relâmpagos na Copa do Brasil (2021 e 2023).



Mas o cartola dependerá dos resultados de 2024 para atrair votos do eleitorado maqueano. Além do risco de não passar da 1ª fase da Copinha, o time principal amarga a 5ª temporada seguida no Paulista da Série A3.

O último acesso do clube é de 2019, da antiga B1 (atual A4). Na ocasião, o MAC era gerido pelo então secretário municipal de esportes e lazer, hoje presidente da Câmara Municipal e principal rival político de Alysson, Eduardo Nascimento (PSDB).



DISPUTA INTERNA

O futuro pré-candidato leva vantagem no ‘dérbi’ partidário contra o vice-prefeito Cícero do Ceasa, seu correligionário, a exemplo de outros que ocupam espaços estratégicos no jogo político do Governo Alonso.

Atual presidente do diretório municipal do Partido Liberal (PL), o assessor está em posição invertida: é ele quem assinará a súmula dos 18 candidatos relacionados para a disputa das 17 vagas da Câmara Municipal.


Páreo duro: vice-prefeito Cícero do Ceasa pode ter que decidir entre PL e candidatura a prefeito

Ou seja, em que pese a futura convocação do prefeito às eleições de outubro, caberia ao vice seguir no time governista ou trocar de camisa partidária, sob risco da perda do patrocínio político, inclusive pelos cofres municipais.

 

PATROCÍNIO PÚBLICO

Desde o início da dupla gestão ‘Prefeitura-MAC’ de fato, em 2021, a Prefeitura de Marília já aplicou mais de R$ 2 milhões em melhorias no estádio municipal, a única ‘casa’ do clube há décadas, através de licitações.

Naquele primeiro ano, o governo municipal contratou uma empresa especializada na implantação de projeto técnico de segurança contra incêndio ao custo total de R$ 2.253.841,81.



Após quatro aditivos de mudança de valores de planilhas e adiamento de prazos, prefeitura e empresa assinaram uma rescisão amigável, em novembro de 2023 – um ano após prazo contratual de entrega.

Segundo costa no Portal da Transparência da Prefeitura de Marília, a empresa recebeu quatro pagamentos que somaram R$ 1,3 milhão. Laudo apresentado pela Secretaria de Planejamento Urbano à FPF apontou restrições estruturais no estádio e novos investimentos.


'Placar' da vistoria: 'status' atual do Abreuzão, segundo informava a FPF, em seu site, na data desta publicação

Em 2022, a Prefeitura de Marília investiu R$ 618,9 mil na instalação e regulagem de refletores de LED e mais R$ 334,8 mil na aquisição de 465 cadeiras para arquibancada. Até aqui, gastou-se pelo menos R$ 2,2 milhões.

Outras duas licitações já homologadas podem triplicar o valor do investimento ainda neste ano eleitoral de 2024: as aquisições de painel de LED (R$ 232 mil) e do gramado sintético (R$ 4.385.700). Ambos os contratos ainda não foram assinados.

Para sediar a Copinha neste ano, a Prefeitura de Marília desembolsou R$ 595 mil para hospedagem e alimentação das quatro delegações. Em 2022, foram outros R$ 580 mil. O Alves Hotel ganhou ambas as licitações.

 

TABELINHA

O modelo de gestão ‘clube-público’ do Marília exercido desde 2019, em que o presidente ocupa a cadeira de prefeito da cidade, e vice-versa, é único na história de 81 anos da agremiação profissional de futebol.

No entanto, a tabelinha entre política e futebol ocorre no Marília desde o primeiro presidente, o dentista Benedito Alves Delphino. Dirigente do então Esporte Clube Comercial entre 1942 e 1947, foi eleito vereador para legislatura de 1948 a 1951.


Só faltou a cartola: Lázaro Ramos Novaes (à esquerda) de formação do MAC dos anos 1950 | Foto: Arquivo

Colega de plenário de Delphino, o empresário Lázaro Ramos Novaes assumiria o MAC – assim denominado em 1947 – entre 1951 e 1953, e retornaria à atuação exclusivamente parlamentar na cidade entre 1960 e 1963.

A exemplo do que ocorre hoje com o Executivo, o então vereador em último ano de mandato (1964-1969), Pedro Rojo Lozano Sola liderou a retomada do clube do amadorismo e foi eleito presidente em 1969 para gestão até 1972.

Sola acabaria reeleito vereador para mais quatro anos (1969-1973) e prefeito de Marília (1973-1977). Presidente do MAC por duas gestões (1974-1978 e 1982-1984), Pedro Pavão tentou o Paço Municipal duas vezes (1988 e 1996). Perdeu ambas.



No entanto, entre 1991 e 1995, Pavão cumpriu mandato de deputado federal – o principal exercido até hoje por um ex-presidente maqueano. Ele ainda seria vereador em Marília entre 2001 e 2004.


Do fundo do baú: Pedro Pavão (à esquerda) ao lado de time do MAC dos anos 1970 | Foto: Arquivo

O sucessor de Pavão no MAC, João More, dirigiu o clube entre 1985 e 1988, já na metade final de seu mandato como vereador (1983-1988). Ele seria reeleito ao cargo para a legislatura de 1993 a 1996.

O mais longevo presidente da história do Marília (1989-1992, 1995-1997, 1998-2000, 2001 e 2011), o advogado Hely Bíscaro, foi eleito vereador em 2004. Desde então, o último a entrar neste jogo político foi o prefeito Daniel Alonso (sem partido).



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